sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Sobre a vida no dia a dia deste mundo doido em que (tento) viver...

A sobrevivência está colocada antes das possibilidades de viver para a maior parte da população mundial. O propagandeado momento globalizado do planeta é vivido apenas por uma parcela mínima de pessoas, as ricas, que desfrutam de todos os prazeres e benesses da mobilidade infinita e das compressões espaço-temporais que os colocam em um patamar que não pode ser vivenciado por qualquer simples mortal.

Eu me sinto entre uma perspectiva e outra, sem ser a tal pequena burguesia que Marx enxergava, por isso, acabo por rememorar uma tese de Giovanni Arrighi sobre um certo processo de proletarização do intelectual, no qual me sinto inserido.

Minhas inserções globalizadas se restringem a viagens no ciberespaço mediadas por um notebook e, algumas vezes pelas leituras e debates interessantes no mestrado do CPDA (aliás, a melhor coisa que fiz na fase adulta da minha vida...bem que a genial – apesar do nosso curto convívio minha gratidão é eterna – Maria Luíza Sussekind tinha me falado para mim...tudo a ver, gosto muito, me sinto em casa, é um reconforto bacana para entender mais um pouco desse mundo louco).

Nunca saí do Brasil, nunca usei helicóptero como meio de transporte, minhas idéias de arrojados empreendimentos nunca passaram de boas idéias viajantes, às vezes loucas idéias mediadas por insanidades deixadas de lado, para trás.

De forma alguma essa condição me angustia.

Pelo contrário, hoje penso numa perspectiva “nativa” de felicidade, aproveitando a leitura e discussão de Malinowski na aula de Teoria Antropológica. Meu sonho de intelectual-proletário é de fechar o circuito (necessário) mestrado-doutorado e me mandar para uma universidade federal bem distante do circuito (bem mais próximo da globalização...) Rio-Sampa, de preferência com o namoro atual configurado em uma relação matrimonial, não necessariamente oficializada, o que em nada depende somente de mim, mas se eu quiser isso, hoje acredito que consigo.

Podem pensar que é uma perspectiva localizada, mas quem disse que não é possível ser feliz localizadamente?

Aliás, dinheiro traz felicidade?

Acho que até certo ponto e dependendo da relação com o dim-dim...
Me amar primeiro, conseguir amar outras pessoas, em especial as que comigo convivem (mesmo que do meu jeito um tanto chato e difícil de entender), procurar meu lugar neste mundo, e achar...todas essas coisas podem me trazer momentos felizes de forma mais intensa que grana.

Aliás, felicidade se encontra numa hora e se perde na outra para voltar a um processo de encontro-perda-reencontro ao longo da vida. A meta é esticar o encontro e reduzir os momentos de perda, com a consciência de que nem sempre isso é possível. Para tal, muita aceitação é necessária. Venho tendo isso, talvez seja uma diferença importante nos últimos anos.

“Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados”.

Essa é a música dos Secos e Molhados que rola agora, enquanto escrevo essa postagem, novamente numa viagem, agora a inversa da última postagem, Rio-Friba.

Venho fazendo isso, continuo sozinho, agora bem acompanhado, mas essencialmente ainda sozinho, me conhecendo, antes de estar plenamente envolvido, resolvendo assumir os tais pecados de outrora, prejuízos alheios que vem sendo colocados na pauta da minha vida sempre que possível.

Vida errante, mente inquieta e brilhante, melhor que ser medíocre, não ter posicionamento sobre o mundo em que vive. Ainda prefiro minha vida do jeito que é, nada demais, mas indo sempre além, tirando força não se sabe de onde para sair dos fundos de poço em que eu mesmo me coloco. Essas escolhas da vida que cada um é responsável pelas que faz... “essas feridas da vida, Margarida”!

Meu sentimento é esse, assim mesmo: todo confuso, todo errado, que acorda num dia, andando e ouvindo música, calminho, e quando atravessa o sinal que está aberto para mim e no meio da travessia o mesmo abre para os carros e um avança aceleradamente sobre mim, distancia e testa o bico do All Star na porta lateral do carro. Foi a escolha dele e foi a minha...

Sempre inquieto a ponto de explodir, sempre pronto para um bom debate de idéias, um chato para uns, uma figura para outros, amoroso e carinhoso e agressivo - respeito e desprezo que convivem junto na opinião dos outros sobre mim ou na percepção que eu tenho dos outros sobre mim...vai entender uma mente inquieta...

Por isso que escrevo, extravaso, destaco, me coloco e me mostro, para segurar a barra, a onda de viver nesse mundo doido em que vivemos...sem crises...

Nenhum comentário: