quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A questão das sacolas plásticas e o consumo como prática política

Na semana de 27 a 31 de outubro, duas matérias publicadas em A Voz da Serra (jornal local de Nova Friburgo) me chamaram atenção. Ambas tratavam da questão referente à importância do uso de sacolas plásticas por consumidores como forma de engajamento consciente em relação à crise ambiental contemporânea. A partir da RIO92 e, em especial, do estabelecimento de um consenso global acerca do agravamento da crise ambiental contemporânea, a esfera do consumo assume um papel político cada vez maior na sociedade em que vivemos.

Antes associado à vida privada ou à alienação, ao desinteresse público e, até mesmo, a patologias, atualmente, o campo do consumo passa por um processo de politização, que tem seus limites. Neste sentido, acredito que algumas questões abordadas nas matérias merecem ser enfatizadas, bem como outras merecem ter seus limites estabelecidos:

1. O consumo como prática política apresenta como um limite evidente por estar na interseção das esferas pública e privada. Trata-se de um campo ambíguo, cujos atores não reúnem condições de regular o mercado, tanto por sua característica pulverizada, quanto por serem assimétricas as relações de poder que se desenvolvem entre as empresas e os consumidores.

2. Apesar de não discordar da idéia de que “se cada um fizer sua parte, o mundo será um espaço melhor para todos”, torna-se claro que grande parte dos países (o Brasil inclusive) não desenvolve qualquer tipo de política pública que estimule práticas de consumo responsável entre seus cidadãos. Temos apenas algumas ações isoladas (como, por exemplo, os casos citados de Brasília e da China).

3. O engajamento em práticas de consumo responsáveis pode aumentar a autonomia e a participação individual nas questões coletivas. Entretanto, é preciso destacar a perniciosa transferência de responsabilidade do Estado e do mercado para os consumidores, que são erigidos como os responsáveis pelo controle do agravamento da crise ambiental contemporânea. Desta forma, desvia-se o foco dos maiores poluidores: o próprio Estado e as grandes corporações (estatais, inclusive).

4. Sem que o Estado – nas esferas federal, estaduais e municipais, no caso brasileiro - execute políticas públicas e realize seu papel regulador, de nada adianta que os consumidores assumam suas responsabilidades ao se engajar em práticas de consumo consciente ou responsável.

5. O campo do consumo emerge como uma das possibilidades de politizar a vida cotidiana paralelamente à decadência das “velhas formas” de política institucional, tais como partidos políticos e sindicatos (trata-se de uma constatação evidenciada pela realidade social, e não uma crítica a essas estruturas), processo intensificado ao longo da década de 1990, que alguns definem como “privatização da política”.

6. Algumas abordagens de cunho moral enxergam o consumo como alienante, desagregador e, em sua maioria, se concentram na questão do exagero patológico do consumo. Esta última, aliás, trata de uma pequena parte do que se consome no mundo atual. Um bom exemplo para contestar essa visão patológica e conspícua associada ao consumo é o abastecimento cotidiano de alimentos, que constitui parte considerável das práticas de consumo atuais. Também é importante ressaltar que o ato de compra é apenas uma prática dentre outras que constituem o campo do consumo, das quais pode-se citar o consumo em si e o descarte.

7. Todos os seres vivos consomem de alguma forma. As práticas de consumo se fazem presentes em todas as sociedades, até mesmo naquelas que não são caracterizadas como capitalistas. Essas práticas atuam na produção de identidade, reconhecimento, pertencimento, distinção, hostilidade (vide boicotes) e resistências a formas de dominação (vide as práticas de consumo alimentar brasileiro que contestam toda e qualquer possibilidade de homogeneização, pasteurização ou MacDonaldização em tempos globalizados de afloramento da individualização). Especialmente a partir da constatação e publicização da crise ambiental, as práticas de consumo também apresentam a perspectiva de engajamento político dos indivíduos, guardados os limites das suas possibilidades.

Destaquei esses pontos, apenas para mostrar que, se o consumo não é o vilão de outrora, também não será a redenção da humanidade, apesar de oportunizar a consciência política a atores individuais, que se sentem impelidos a agir, não mais da velha forma, mas, neste momento, individualmente. O desafio é transformar essa politização da vida privada em ações públicas integradas de forma a interagir com o Estado e os mercados em prol da sustentabilidade do planeta.

domingo, 26 de outubro de 2008

A importância da decepção para participação

Ontem comecei a ler um autor muito importante para minhas pretensões acadêmicas. Trata-se de Albert Hirschman. Seu livro De consumidor a Cidadão - atividade privada e participação na vida pública é uma espécie de "leitura obrigatória" para quem está interessado em formas de ação política na esfera da vida cotidiana, mais especificamente, no meu caso, na esfera do consumo.

É bastante interessante a abordagem que este autor imprime por introduzir a idéia de um ciclo privado-público-privado nas questões que envolvem a predisposição para a participação em sociedade. Hirschman é economista de formação e critica duramente o racionalismo neoclássico e a visão de soberania do consumidor. Além disso, sua abordagem investe na importância da decepção para entender os comportamentos coletivos e individuais de participação nas esferas pública e privada.

Em momentos eleitorais como o que acabamos de superar (e, por que não, de investir um resto de esperança que sobrou), creio ser relevantes as questões abordadas por Hirschman. Li apenas a introdução e o primeiro capítulo. Logo, estarei restrito a eles nesta postagem, com a esperança de continuar postando o restante do livro. Deste momento em diante, algumas várias notas acerca do conteúdo:

1. Questão central: nossas sociedades são de alguma forma predispostas a oscilações entre períodos de intensa preocupação com questões públicas e de quase total concentração no desenvolvimento e bem-estar individuais?

É este problema que Hirschman procura respostas no decorrer do livro, revelando de antemão contar com uma série de argumentos para defender a existência das oscilações. Ressalta ele a necessidade de comprovação do caréter endógeno para que um ciclo do comportamento coletivo possa ser construído. Isso significa que "a origem de uma fase se encontra necessariamente naquela que a precedeu".

2. O significado da dicotomia privado-público, no qual o autor distingue entre duas variedades de vida ativa: tradicional (se preocupa com as questões públicas) e interesse particular (busca de uma vida melhor para o indivíduo e sua família).

Neste sentido, cabe ressaltar a legitimidade social que o autor atribui à luta do indivíduo por seus interesses materiais particulares. O que Hirschman procura é por uma fenomenologia de engajamentos e decepções para explicar oscilações entre interesses particulares e ação pública e vice-versa.

3. A idéia básica de Hirschman: os atos de consumo, assim como os atos de participação em questões públicas, que são realizados porque se espera que gerem satisfação, também geram decepção e insatisfação. Algumas idéias aparecem:
- os seres humanos nunca estão satisfeitos.
- você nunca sabe o que é suficiente a menos que você saiba o que é mais que suficiente.
- errar é humano: errar é faculdade exclusiva dos humanos, apenas humanos erram.

4. A argumentação do autor foca na experiência do consumidor-cidadão individual ou, no máximo, na unidade familiar, donde surge o problema micro-macro. Ressalta-se que boa parte das atividades de consumo é tipicamente repetitiva, donde tira-se que uma decepção tende a produzir mudanças nos padrões de consumo e atividades que são tudo, menos "marginais". Com isso pretende criticar o realismo das teorias econômicas e sociológicas que tentavam dar conta da temática.

5. O mundo que o autor vislumbra compreender é "um mundo em que os homens pensam que querem uma coisa e, ao conseguí-la, descobrem, para seu desalento, que não a querem tanto quanto pensavam ou não a querem em absoluto e que alguma outra coisa, da qual tinham ciência mínima, é o que realmente querem".

6. Porém, Hirschman deixa claro que pretende se restringir apenas à mudança das metas de consumo privado para a atividade em interesse público e de volta àquelas.

Bem, está tarde e quando tiver tempo, tesão eu volto para comentar ou mesmo para dar seqüência...boa noite!!!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Tempo, tempo, tempo: já cantava Caetano...

Nunca senti tanto como agora a tal "compressão espaço-tempo" que alguns sociólogos tanto abordam como sendo uma das rupturas da modernidade ou mesmo uma de suas caracterísiticas atuais.

Seja Bauman, o mais famoso dos últimos anos, ou Stuart Hall, que eu gosto mais, o tempo parece coisa rara e o espaço é algo a ser constantemente desafiado e vencido, mesmo que com dificuldade para gente como eu que não é tão globalizado, mas tem um pé aqui e outro lá, onde quer que seja.

Talvez seja o impulso de fazer muitas e variadas coisas, as vezes sem a mínima sinergia, em um tempo que não cabe...fazer o que?

Ultimamente, não tenho me envolvido em nada de cabeça que não seja meu projeto de pesquisa no mestrado sobre formas de ação política através do campo do consumo, o que, para muita gente boa, é uma loucura.

Mas se pra mim faz sentido e é passível de análise sociológica: que se danem os demais que não acham!

Nunca antes encontrei tanta gente que não via há tempos!

Isso tem um significado imediato: a idade avança, não sou velho, mas também não sou novo, estou, digamos, naquela última década diferenciada do "enta".

Com trinta e dois anos, até que, como disse uma conhecida que reencontrei num sinal de trânsito no Centro do Rio, "não mudou nada, nem um fio de cabelo branco". Isso não vem a ser exatamente verdade...

Eles se escondem, esses fios de cabelo branco, até porque não pretendo pintar, muito menos implantar caso a tendência de que eles caiam se confirme. Deixa ser, deixa estar.

No Rio, é véspera de segundo turno, prefiro Gabeira, já votei nele em épocas longínquas, porém hoje não tenho mais essa oportunidade de votar no Rio, durante tanto tempo deixei rolar uma justificativa nas eleições e me enfiava no Sana...

Reencontros, distâncias sentidas, desafios a vencer, recuos, tudo isso acontecendo ao mesmo tempo, espaços diferentes, ultimamente tenho curtido mais um Durkheim do que o velho Marx.

Conhecendo gente nova, gente bacana, gente que curto, isso é que vale a pena também...tô meio que de saco cheio de postagem intelectializadas, minhas postagens existencialistas tem apenas uma ponta, ou um fundo, do que aprendo, penso e digo.

E assim, como cantava Caetano, seguimos nosso tempo, tempo, tempo...sono! Então: cama!

Uma pena que hoje vou só...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

começando a saber o que se quer...

É bem interessante quando as coisas começam a ficar claras na vida da gente, mesmo que não estejam evidentes por completo.

Mas ter aquela (essa) sensação boa de que se está num caminho em que bons ventos sopram do futuro em direção ao presente, como se isso fosse possível, ou seja, de que o foco necessário para desempenhar as ações atuais pode me gerar bem-estar, afinal, é para nos sentirmos bem que lutamos, que pensamos, pelo menos eu quero me sentir bem, comigo em especial e em primeiro lugar.

Individualista, mas não egoísta.

Creio que há diferença entre esses dois termos. Também não sou altruísta e hipócrita, enfim quero ser eu, mas também quero ser eu com os outros ao meu redor, sejam eles família, amigos, colegas, namorada, e até quem eu não conheço...

Fiquei um tempo considerável, quase duas semanas, sem postar.

Acabei aproveitando o primeiro tempo mais livre para começar a escrever o que estivesse em minha mente inquieta neste exato momento.

E tanta coisa muda em tão pouco tempo, imagina em duas semanas?

Não podia ser diferente comigo...

Já sai da idéia de montar uma nova mídia impressa em Nova Friburgo (RJ). Menos pela possibilidade evidente de ser bem sucedido do que pela certeza de que isso me tiraria do meu foco atual e também de um sonho que se realizou recentemente de me desenvolver enquanto pesquisador acadêmico.

Considero que tenho que tentar identificar minhas vocações para me sentir bem...

Considero-me que levo jeito para a vida acadêmica, a ciência, universidade, formação, descobertas, pontos de vista, entre muitas outras coisas.

Bastou isso, essa coisa de entrar no mestrado, o fato de estar cultivando uma certa estabilidade na relação com o núcleo familiar, um amor bacana que surge com uma menina legal.

O que mais poderia querer que justificasse meu bem-estar neste momento, e ele é que vale, por ser ele que existe?

Falar disso é fácil, difícil é recordar do caminho percorrido até então, ter em mente as pessoas que foram importantes para que eu fosse o que sou hoje, repleto de defeitos, mas enriquecido com as pessoas que passaram por esta minha curta existência.

Individualista, mas com memória em dia...

Tem um monte de coisa que gostaria de escrever sobre elas, mas o meu bem-estar me veio a tona antes do marxismo, do consumo, da vida, do amor, dos amigos, da crise econômica, dos sequestros midiaticamente detalhados...

Vamos ver se ainda me resta fôlego...

Mas há tempo pra tudo nesta vida...

Pra que pressa quando se está tão bem, tão zen?

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Os votos nos vereadores e uma análise preliminar dos eleitos em Nova Friburgo

Mesmo sabendo das possibilidades de mudanças no quadro de vereadores em decorrência dos prazos legais para aprovação de contas, procurei fazer uma análise preliminar do quadro que se apresenta após a apresentação dos resultados eletronicamente apurados. Essa análise compreende uma parte mais geral e outra mais voltada para o perfil da Câmara que assumirá no dia 1/1/2009.

Pelo resultado, me parece que a população de Nova Friburgo não estava lá muito satisfeita com os seus representantes...

Pelo cálculo matemático, 66,7% dos vereadores eleitos no domingo não estavam na Câmara na legislatura passada. Logo, uma renovação aconteceu, até porque dos oito que entram, acredito que cinco sejam estreantes. Minha dúvida é se Renato Abi-Râmia já foi ou não vereador, pois subiria para seis o número de estréias.

Se considerarmos os votos válidos em candidatos a vereador (109.728) e o total de eleitores (141.776), chegamos num percentual de 22,6% que não votaram em qualquer candidato - entre abstenções (14,13% do total), votos em branco e nulos.

Foram 8 (oito) vereadores sem votos, alguns deles estão impugnados, como Mário Aguilera (PDT), Tico (PPS) e Vanozinho (PSC), sendo que este último, caso seu recurso seja aceito, pode entrar na vaga que atualmente está com Roberto Wermelinger (PMDB) entre os eleitos.

Entre os vereadores que estão cumprindo seu último ano de mandato e não conseguiram se eleger relacionam-se:

Nami Nassif (PDT) – 2.273 votos
Cigano (PSB) – 1.715 votos
Mário César Folly (PSB) – 1.587 votos
Alexandre Cruz (PPS) – 1.371 votos
Professor Jorge Carvalho (PMDB) – 1.215 votos
Breder (PMDB) – 1.149 votos
Vanor Cosme (PSB) – 602 votos
João Padeiro (PP) – 367 votos

Vanor Cosme (PSB) está relacionado entre os oito pelo fato de a vereadora Jamila Calil (PSB) ter sido candidata a prefeita e o mesmo ser seu suplente imediato, bem como ter atuado durante dois anos no exercício da função legislativa.

O resultado mostra que não existe cristalização, ou seja, os candidatos que estavam já a várias legislaturas (alguns iam pra sexta) foram afastados do próximo período.

Por outro lado, casos de infidelidade partidária não foram bem-sucedidos e podem ser inclusive alijados de seus partidos.

Candidatos que defenderam o popular governo de Saudade ficaram de fora, sendo que Cigano (PSB) e Mário César Folly (PSB), em grande parte pelo reduzido poder de fogo de suas coligações proporcionais.

Casos de vereadores que eram apagados nas discussões da Câmara refletiram votos insuficientes nas urnas, que é o caso de nomes como Breder (PMDB) e João Padeiro (PP), bem como daquele que se irritava fácil, como é o caso de Alexandre Cruz (PPS) ou que trocou uma grande emissora de TV pela tribuna da TV Câmara, defendendo o governo, como líder, que é o caso de Vanor Cosme (PSB).

O caso do Professor Jorge Carvalho (PMDB) é mais emblemático de um fim de linha que tinha sido anunciado ao, na eleição passada, ter sido o suplente do renunciante Balbi. Caso Vanozinho (PSC) seja mesmo impugnado, mantém a suplência, só que agora de Roberto Wermellinger (PMDB). Vale dizer que tudo isso pode mudar com preenchimento de cargos no governo eleito, que não cabe nesta análise.
Aproveitando a questão midiática, enxergo que o fato de uma pessoa ter um certo espaço na mídia local, seja em jornal, televisão ou rádio não garante uma votação sequer razoável, o que mostra os casos de Osvaldinho (PDT – 462 votos – 62º lugar); Marcelinho Braune (PDT – 371 votos – 76º lugar); Alexandre Guerreiro (PT do B – 278 votos – 86º lugar); Arlete Protetora dos Animais (PRP – 271 votos – 87º lugar); Denise Lopes (PDT – 239 votos – 91º lugar); Ricardo Cler (PP – 179 votos – 104º lugar); Dr. Max (PMDB – 126 votos – 117º lugar). Claro que alguns dos eleitos aproveitaram a visibilidade midiática, caso de Marcus Medeiros (PTB) e Isaque Demani (PR).

Da mesma forma, comerciantes nem sempre são bem-sucedidos (Rosângela da Eletromóveis é um exemplo apenas...), assim como figuras que ocupam cargos em governo também mostram-se fracos de voto (Maria Amélia, Maria Dedé da Terceira Idade, Giuliano Aguiar), assim como candidatos de certas localidades (Samoel da Farmácia, apesar dos seus 1.905 votos ou 348 a mais que o último vereador eleito, Naim Pedro, Robson Heringer, Sérgio Gasolina – todos de Lumiar / São Pedro da Serra).

Enfim, apenas escolhi alguns casos emblemáticos, o que não se atribui a qualquer tipo de pinimba, considerando que alguns dos citados sequer conheço pessoalmente.

Falando dos que se elegeram:

Marcus Medeiros (PTB): apresentador polêmico da TVC, certamente mostra o lado bem-sucedido de alguém que tinha forte exposição na mídia. Apesar de suas posturas dúbias - de crítico do governo atual para um candidato de sua base - conseguiu uma votação excepcional, que atribuo ao seu carisma frente a população por sua atuação na TVC. De qualquer forma, em seu primeiro discurso passa a esperança de que mexerá em alguns vespeiros necessários, em especial nas concessionárias e na (necessária) fiscalização dos gastos governamentais. Por sua, digamos, flexibilidade e pragmatismo ideológicos tem grandes chances de assumir a presidência da Câmara e até passar a compor a base do governo eleito.

Serginho (PP): atual presidente da Câmara, certamente mostra o peso de vários mandatos nas chances de eleger um vereador. Não o conheço a ponto de poder emitir uma opinião, mas me parece estar sempre ao lado do poder, desde sempre, logo, é bem provável que passe para o lado do prefeito eleito, compondo sua base parlamentar.

Cláudio Damião (PT): considero uma das melhores novidades da futura legislatura. Combativo, de postura independente, se conseguir ponderar o discurso e articular com demais vereadores de mesmo espírito poderá fazer parte de um grupo influente em termos de fiscalização do poder executivo, bem como de proposições que atendam demandas coletivas.

Renato Abi-Râmia (PMDB): depois de várias tentativas concorrendo, de forma frustrante, a prefeito, chega a Câmara, fazendo parte da base atual do governo eleito. Pode ter chance de assumir a presidência da casa.

Marcelo Verly (PSDB): o mais inteligente vereador da Câmara atual, conseguiu sua eleição por meio de suas qualidades, que lhe garantem um posicionamento sério frente às questões que aparecem na Câmara. A tendência é que seja o líder da oposição ao prefeito atual em face das divergências públicas que acabaram levando Heródoto a sair do PSDB e ir para o PSC de onde se lançou candidato vitorioso a prefeito.

Professor Pierre (PDT): grata revelação, jovem e inteligente, além de bem articulado, vem carregando a bandeira da educação e do educacionismo. Junto com Marcelo, Cláudio e Édson Flávio pode formar um núcleo de oposição construtiva na Câmara.

Luciano Faria (PDT): não o conheço, trata-se de uma surpresa para mim. Espero que mantenha a linha do seu partido e que defenda os interesses da população.

Reinaldo Rodrigues (PPS): retorna à Câmara, não mais como campeão de votos, mas parece possível de compor a base do governo eleito. À conferir.

Manoel do Pote (PSB): tem o mérito de ser o único candidato do PSB que conseguiu continuar na casa. Entretanto, pelo perfil, tendo sido eleito no último pleito pelo PMDB, periga ir parar na base do governo eleito. À conferir.

Isaque Demani (PR): mais um exemplo de que aparecer na mídia pode render bons votos e até uma eleição. Não o conheço, nem suas propostas, mas a tendência é de ir para a base do governo eleito. À conferir.

Roberto Wermelinger (PMDB): mais um dos que continuam, era de uma oposição moderada em relação ao governo atual e fará parte da base do governo eleito, pode ser que como líder do governo na Câmara.

Edson Flávio (PR): uma grata surpresa, humilde, batalhador, trabalhou até o último instante e conseguiu uma vaga em grande parte graças a coligação em que estava inserido.

Além de pessoas mudaram as composições partidárias. As maiores novidades são a entrada do PR com duas cadeiras, o PTB com uma e o retorno do PT depois de 20 anos, com uma cadeira; o PDT ganha uma cadeira, ficando com duas, o PPS manteve sua cadeira, assim como o PSDB; o PMDB perde uma cadeira, ficando com duas; o PP perdeu uma cadeira, e agora tem apenas uma. Mas nenhuma perda foi maior que a do PSB, partido da atual prefeita, que perdeu três cadeiras e ficou reduzido a um vereador.

Colocado este quadro, resta-nos agora aguardar as negociações que começaram a ocorrer desde a última segunda para saber se a mudança das pessoas e dos partidos que nos representam pode ser apontada como uma renovação ou apenas uma dança das cadeiras.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

E acabou a festa, tomara que não venha a ressaca...

Em Nova Friburgo, acabou a longa festa da democracia que acontece a cada dois anos no país chamado Brasil. Algumas cidades brasileiras continuarão em festas até novembro, ou seja, terão segundo turno.

Essa postagem é para parabenizar o candidato vitorioso no jogo democrático que se encerrou ontem, prefeito eleito para governar Nova Friburgo no período 2009-2012, Heródoto Bento de Mello (PSC-PMDB).

Não votei nele, aliás não acreditava nele quando do anúncio da sua candidatura e até, por estar trabalhando em prol da candidatura Olney Botelho, acreditei que pudesse ser interessante a candidatura dele para o grupo em que estava inserido, ledo engano...

O mais bonito da vida está em assumir os erros, para não errar novamente, em especial se isso proporciona crescimento pessoal.

Particularmente, acredito que alguns erros cruciais (e não são todos, pois foram muitos) na campanha de Olney (e sempre que me referir a ele, não é em relação à pessoa, mas a toda a estrutura de campanha) foram determinantes para a vitória de Heródoto, entre os quais cito, de forma breve, para não ocupar o espaço das parabenizações:

1. Construiu um belo programa de governo, com ações possíveis e integradas, numa ampla articulação política, mas não o lançou no primeiro dia de campanha, e nem lançou mais durante o processo, o que permitiu que Heródoto entrasse por esse vácuo e começasse a crescer através de um folheto simples, direto, que destacava realizações passadas e propondo um projeto audacioso de um trem, que acabou por centralizar a discussão política local e ganhou o imaginário popular. Ao deixar de lançar seu programa de governo publicamente e primeiramente, Olney perdeu a possibilidade de pautar a discussão de propostas.

2. Uma campanha é feita de ações públicas, de rua, de contato com o povo: curioso notar que Olney somente intensificou essas ações ao final de sua campanha, a partir de meados de setembro, exatamente quando Heródoto se recolheu. No início do período eleitoral, Heródoto visitava comunidades o dia inteiro, dia ápós dia, enquanto Olney raramente aparecia em público. Até que ponto, Heródoto já tinha passado pelas comunidades que Olney visitou bem depois?

3. Outra questão evidente refere-se à questão envolvendo o posicionamento de marketing e as estruturas de produção: enquanto a campanha de Olney praticamente montou uma estrutura às vésperas das eleições, a campanha de Heródoto delegou essa função a uma agência local que mostrou estar entrosada o suficiente para tocar as demandas de uma campanha, com o diferencial de serem pessoas de Nova Friburgo.

4. Toda a campanha de Olney foi estruturada para enfrentar um adversário forte da situação governamental. O "efeito-surpresa" que Heródoto proporcionou demandou um reposicionamento, que além de demorado (por não ter sido reconhecido no momento inicial) foi equivocado por ter exagerado na agressividade das peças e programas desenvolvidos.

Também algumas outras questões precisam ser destacadas neste momento a fim de gerar uma profunda reflexão:

a) Parece evidente com o resultado da eleição que o governo de Saudade Braga não representou qualquer ruptura com a polaridade antigamente exercida por Heródoto e Paulo Azevedo. Me parece que ela ocupou um vácuo deixado pelo ex-prefeito Paulo Azevedo quando este se "queimou" com a concessão das funções exercidas pela AMAE, que veio a constituir o que hoje é a Caenf. Quem sabe não teremos um retorno heróico do atual grupo político, não necessariamente através de Saudade?

b) A mentalidade da população de Nova Friburgo é conservadora e provinciana, e digo isso enquanto característica que apresenta seus prós e contras, não de forma depreciativa. Posso dizer que tendo estado a frente do debate da delicada questão carcerária em nossa cidade pude perceber isso na pele e posso afirmar isso.

c) Vejo que propostas de radicalização democrática que acenam com aumento da participação popular podem surtir um efeito negativo na população de Nova Friburgo nos períodos eleitorais, considerando que apenas uma minoria deseja, de fato, estar participando. No fundo, pelas características locais, a população de Nova Friburgo aponta querer um governante que tome decisões delegadas por ela através do voto, mas não quer participar de discussões, fóruns (que considero o máximo...).

Dentro desse contexto analítico que destaco, insere-se a eleição de Heródoto Bento de Mello.

A esperança é a última que morre.

Apesar de seu passado político que remete a uma imagem autoritária, de um governo centralizador, com algumas benesses as pessoas de renda mais baixa (vide a imensidão de conjuntos habitacionais criados por ele e obras espalhadas pela cidade...), mas privilegiando os mais abastados (em especial os empresários que estão ligados à obras públicas...).

Fica a esperança de que o seu governo, até pela sua idade avançada, possa ser o oposto da minha expectativa acerca dele, que se converta em um dos melhores que Nova Friburgo já teve.

Sonhar não custa nada, o sonho é tão real, espero que Heródoto Bento de Mello seja o governante de um novo momento em Nova Friburgo, que respeite e reforce instrumentos democráticos de controle social, que estimule a população a se posicionar frente a questões públicas (não seria legal se o prefeito inaugurasse uma ampla discussão pública acerca do trem, sua necessidade, viabilidade, principalmente por conta do impacto na cidade e na vida da população?), que se volte para uma melhor oferta de serviços essenciais, como a saúde e a educação, que fortaleça a estrutura necessária para que Nova Friburgo se posicione entre os destinos turísticos mais valorizados do Brasil.

São muitos outros sonhos que tenho e não será numa postagem apenas que irei destacá-los...de qualquer forma, ficarei aqui, sempre que tiver um tempinho, colocando questões, refletindo...faz parte da minha vida...

Repito os parabés ao jogo e a festa democrática que elegeram Heródoto Bento de Mello!