segunda-feira, 6 de outubro de 2008

E acabou a festa, tomara que não venha a ressaca...

Em Nova Friburgo, acabou a longa festa da democracia que acontece a cada dois anos no país chamado Brasil. Algumas cidades brasileiras continuarão em festas até novembro, ou seja, terão segundo turno.

Essa postagem é para parabenizar o candidato vitorioso no jogo democrático que se encerrou ontem, prefeito eleito para governar Nova Friburgo no período 2009-2012, Heródoto Bento de Mello (PSC-PMDB).

Não votei nele, aliás não acreditava nele quando do anúncio da sua candidatura e até, por estar trabalhando em prol da candidatura Olney Botelho, acreditei que pudesse ser interessante a candidatura dele para o grupo em que estava inserido, ledo engano...

O mais bonito da vida está em assumir os erros, para não errar novamente, em especial se isso proporciona crescimento pessoal.

Particularmente, acredito que alguns erros cruciais (e não são todos, pois foram muitos) na campanha de Olney (e sempre que me referir a ele, não é em relação à pessoa, mas a toda a estrutura de campanha) foram determinantes para a vitória de Heródoto, entre os quais cito, de forma breve, para não ocupar o espaço das parabenizações:

1. Construiu um belo programa de governo, com ações possíveis e integradas, numa ampla articulação política, mas não o lançou no primeiro dia de campanha, e nem lançou mais durante o processo, o que permitiu que Heródoto entrasse por esse vácuo e começasse a crescer através de um folheto simples, direto, que destacava realizações passadas e propondo um projeto audacioso de um trem, que acabou por centralizar a discussão política local e ganhou o imaginário popular. Ao deixar de lançar seu programa de governo publicamente e primeiramente, Olney perdeu a possibilidade de pautar a discussão de propostas.

2. Uma campanha é feita de ações públicas, de rua, de contato com o povo: curioso notar que Olney somente intensificou essas ações ao final de sua campanha, a partir de meados de setembro, exatamente quando Heródoto se recolheu. No início do período eleitoral, Heródoto visitava comunidades o dia inteiro, dia ápós dia, enquanto Olney raramente aparecia em público. Até que ponto, Heródoto já tinha passado pelas comunidades que Olney visitou bem depois?

3. Outra questão evidente refere-se à questão envolvendo o posicionamento de marketing e as estruturas de produção: enquanto a campanha de Olney praticamente montou uma estrutura às vésperas das eleições, a campanha de Heródoto delegou essa função a uma agência local que mostrou estar entrosada o suficiente para tocar as demandas de uma campanha, com o diferencial de serem pessoas de Nova Friburgo.

4. Toda a campanha de Olney foi estruturada para enfrentar um adversário forte da situação governamental. O "efeito-surpresa" que Heródoto proporcionou demandou um reposicionamento, que além de demorado (por não ter sido reconhecido no momento inicial) foi equivocado por ter exagerado na agressividade das peças e programas desenvolvidos.

Também algumas outras questões precisam ser destacadas neste momento a fim de gerar uma profunda reflexão:

a) Parece evidente com o resultado da eleição que o governo de Saudade Braga não representou qualquer ruptura com a polaridade antigamente exercida por Heródoto e Paulo Azevedo. Me parece que ela ocupou um vácuo deixado pelo ex-prefeito Paulo Azevedo quando este se "queimou" com a concessão das funções exercidas pela AMAE, que veio a constituir o que hoje é a Caenf. Quem sabe não teremos um retorno heróico do atual grupo político, não necessariamente através de Saudade?

b) A mentalidade da população de Nova Friburgo é conservadora e provinciana, e digo isso enquanto característica que apresenta seus prós e contras, não de forma depreciativa. Posso dizer que tendo estado a frente do debate da delicada questão carcerária em nossa cidade pude perceber isso na pele e posso afirmar isso.

c) Vejo que propostas de radicalização democrática que acenam com aumento da participação popular podem surtir um efeito negativo na população de Nova Friburgo nos períodos eleitorais, considerando que apenas uma minoria deseja, de fato, estar participando. No fundo, pelas características locais, a população de Nova Friburgo aponta querer um governante que tome decisões delegadas por ela através do voto, mas não quer participar de discussões, fóruns (que considero o máximo...).

Dentro desse contexto analítico que destaco, insere-se a eleição de Heródoto Bento de Mello.

A esperança é a última que morre.

Apesar de seu passado político que remete a uma imagem autoritária, de um governo centralizador, com algumas benesses as pessoas de renda mais baixa (vide a imensidão de conjuntos habitacionais criados por ele e obras espalhadas pela cidade...), mas privilegiando os mais abastados (em especial os empresários que estão ligados à obras públicas...).

Fica a esperança de que o seu governo, até pela sua idade avançada, possa ser o oposto da minha expectativa acerca dele, que se converta em um dos melhores que Nova Friburgo já teve.

Sonhar não custa nada, o sonho é tão real, espero que Heródoto Bento de Mello seja o governante de um novo momento em Nova Friburgo, que respeite e reforce instrumentos democráticos de controle social, que estimule a população a se posicionar frente a questões públicas (não seria legal se o prefeito inaugurasse uma ampla discussão pública acerca do trem, sua necessidade, viabilidade, principalmente por conta do impacto na cidade e na vida da população?), que se volte para uma melhor oferta de serviços essenciais, como a saúde e a educação, que fortaleça a estrutura necessária para que Nova Friburgo se posicione entre os destinos turísticos mais valorizados do Brasil.

São muitos outros sonhos que tenho e não será numa postagem apenas que irei destacá-los...de qualquer forma, ficarei aqui, sempre que tiver um tempinho, colocando questões, refletindo...faz parte da minha vida...

Repito os parabés ao jogo e a festa democrática que elegeram Heródoto Bento de Mello!

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