sábado, 14 de fevereiro de 2009

Subpolíticas e virtualidade

Esta postagem versa sobre a ação política de protesto contra a morte de três cães ordenada por um secretário municipal em Nova Friburgo na última quarta (11/2). Mais interessante é o fato de que a ação política tenha sido debatida, divulgada e estimulada pelo Orkut, mais especificamente na comunidade Nova Friburgo (tópico "Prefeitura tá matando cachorro na cidade?!?!?!?!? - http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=46658&tid=5301435763095638166).

Me dedico aqui a alguns tópicos referentes aos temas acima destacados, tentarei ser curto. Passo à margem da responsabilidade (tenho evitado achar culpados, mas acredito em responsabilidades...) do prefeito e do governo pelo ato de um secretário (apesar de acreditar ser uma questão importante, mas não irei abordar por conta da minha auto-imposta quarentena política local, vide postagem abaixo neste blog).

1. Um protesto contra a morte de cães, a princípio (considerando que não confio na emissora que originalmente veiculou a "matéria") no pátio da prefeitura de Nova Friburgo, aconteceu na manhã chuvosa ontem, sexta feira (13/2), em frente a sede do governo. Pelos relatos que ouvi, entre 100 e 200 pessoas estiveram presentes. Isso demonstra que não é distante se falar de uma politização do cotidiano, mesmo em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, no sudeste brasileiro, América Latina, planeta Terra.

2. A politização do cotidiano parece ser uma consequência do transbordamento da política em subpolíticas (da mesma forma que a defesa dos animais, posso relacionar, esquecendo alguma, claro, as questões de gênero, etnia, ecológica, sexualidade como subpolíticas evidentes no mundo atual). Existe uma postagem específica sobre este transbordamento logo abaixo neste blog. Essas subpolíticas são independentes das políticas existentes, mas as influenciam de forma que o fato do prefeito ter recebido uma comissão (que não era "oficial", no sentido de estar legalmente estabelecida, mas sim legitimamente criada em um espaço de três dias...) é um exemplo que pode traduzir isso neste caso.

3. Impressiona o fato do Orkut ter sido uma das esferas de divulgação, e, principalmente, mais ainda de debate acerca do tema, considerando que a tal emissora de TV pode ter sido a principal divulgadora da mobilização, mas impôs uma determinada versão e não debateu o tema. A chamada "virtualidade" cada vez mais perde este caráter que a define, este caráter virtual, ou seja, esta distinção entre o real e o virtual, cada dia mais se desfaz, se funde. Afinal, quem seria capaz de dizer que um sítio eletrônico (ou site, tento não ser xenófobo...) não é real no mundo em que vivemos hoje?

4. Desta forma, novas esferas e novas causas, que estou aqui chamando de subpolíticas (para maiores interessados, basta baixar o livro "Sociedade de Risco Global", de Ülrich Beck em http://www.4shared.com/), contribuem para uma ampliação do campo político, indo além dos parlamentos, governos,sindicatos e partidos políticos, sem eliminá-los, mas certamente transformando-os.

5. Interessante perceber como um padrão das democracias atuais é agir sobre as questões pelas quais a sociedade civil ou a esfera pública se mobilizam, gerando protestos e demandando posicionamentos políticos claros, sob a pena de perda de credibilidade, popularidade dos representantes das políticas tradicionais. Por outro lado, sempre que questões polêmicas não são absorvidas pela esfera pública ou sociedade civil, as mesmas adormecem no limbo da desatenção política, mesmo sendo tão graves ou prejudiciais a longo prazo (a carceragem da Vila Amélia pode ser um exemplo, aqui mesmo em Nova Friburgo).

6. Outro aspecto interessante é que alguns (poucos) membros da comunidade do Orkut desmereceram uma subpolítica emergente (no caso, a defesa dos animais) em função da valorização de uma questão politicamente estabelecida (no caso, a pobreza existente estruturalmente no Brasil). Isso denota um dirigismo arcaico, característico dos círculos marxistas, mas não exclusivo destes, pois também remete à tentativa moralista de acreditar que suas perspectivas individuais podem estar acima das vidas das outras pessoas, mais especificamente do que importa de fato para as pessoas em seu cotidiano, que nem sempre trata-se das questões macro.

7. Neste sentido, minha questão hoje é saber se as mobilizações e ações coletivas que surgirem destas subpolíticas, não podem começar a gerar um sentimento de que é possível mudar algumas realidades, a ponto de poder até superar o problema grave da desigualdade social tão destacado e conhecido, mas que ainda insiste em, pelo menos, permanecer na pauta social brasileira.

Quem pode responder hoje?

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