domingo, 28 de junho de 2009

A debatida "queda" da exigência do diploma de jornalismo para atuar como jornalista...

Não vejo a tragédia que a categoria dos jornalistas pinta (fim de faculdades, da profissão, coisas que andei ouvindo...). Acho que continuam tendo um mercado de trabalho, que já tinha seus problemas de saturação (acredito que desde a criação da legislação, que não é lá muito antiga...) e que essa necessidade de diploma já era ignorada pela prática das empresas (me parece que apenas 10% dos jornalistas em atividade não posseum um canudo em faculdade de comunicação social, logo, nada tão exagerado quanto a reação dos que possuem, um grito corporativista derrotado). Enfim, é um papo interessante e que não se resolve em uma mensagem, mas acho que através da troca a visão se amplia. Algumas perguntas interessantes para que os jornalistas reagentes respondam:

1- Você se sentiu prejudicado enquanto (a) um profissional, um jornalista, (b) como parte de uma categoria ou (c) ambos? Ou seja, existe alguma separação essas esferas no sentido de entender a perspectiva particular e a perspectiva de quem ainda não está no mercado de trabalho? É uma questão que afeta hoje quem tem uma trajetória profissional ou é um discurso corporativista (não estou dando qualquer valor, nem mesmo acredito que seja pejorativo o termo corporativismo)?

2- Até que ponto o STF apenas decidiu com base em uma prática do mercado de trabalho de "produção de notícias"? E até que ponto isso não é positivo, tendo em vista que as leis no Brasil geralmente não tem lá muito "pé na realidade"?

3- Será que a imagem negativa do Gilmar Mendes perante a opinião pública, hoje, não favorece uma crítica a derrubada da exigência de diploma? Essa mudança afeta muito o mercado de trabalho? Será que as "outras áreas" estão lá tão interessadas em postos jornalísticos ou não tem seus campos de trabalho? Será que não é apenas um ou outro profissional de economia, história, ciências sociais, direito, serviço social, entre outras, que teria interesse em trabalhar como um jornalista? Não seria mais exceção que regra essa possibilidade para as "outras carreiras"?

Muitos jornalistas que escrevem contra a medida adotada pelo STF, colocam exemplos abstratos das conseqüências danosas que as cidades de menor porte sofrerão com a intensifcação do coronelismo e do clientelismo. Entretanto, a tal "exigência" já não dizia muita coisa. Por exemplo, no caso concreto de Nova Friburgo, que vivencio, há uns quinze, vinte anos atrás, a cidade tinha uns sete jornais (180 mil habitantes) com relativa frequência de circulação.

Hoje só existe um jornal, A Voz da Serra, que circula de terça a sábado, no mais são veículos distribuídos gratuitamente com captação de alguma publicidade.

Este jornal, sai governo, entra governo, continua recebendo as verbas de publicidade e, quando isso deixou de acontecer foi por conta da primeira eleição de Saudade Braga, que "destinou" as verbas de propaganda oficial para outro jornal (Panorama).

No segundo mandato da prefeita, o A Voz da Serra voltou a ser o destinatário de algo em torno de R$ 280 mil / ano.

Isso é por demais pernicioso em vários aspectos. Não há "outra voz" na cidade, o jornal praticamente não emprega jornalistas, não tem um departamento comercial estruturado (logo, abertamente, o dono, um senhor já, diz abertamente que só quer trabalhar com governo...). Se em Nova Friburgo é assim, o que falar de rincões que sequer um jornal existe.

Por outro lado, acho também que rola um certo imobilismo em torno dos oligopólios (nos grandes centros isso é compensado, me parece, pelo grande número de títulos de revista, mainstream ou alternativos, que saem a cada instante...) e das empresas mais tradicionais vinculados ao poder político local (nas cidades de interior deste Brasil).

Parece haver uma disputa corporativista entre os donos das empresas de mídia e os jornalistas, que não demonstram força corporativista frente aos empresários de mídia e isso faz parte do mundo hoje. O que quero dizer é que dificilmente os jornalistas vão conseguir se organizar e protestar por algum tempo, tendo em vista que protestos coletivos clássicos em torno de conquistas trabalhistas setoriais andam um tanto em baixa, ao contrário de outros (como, no caso mais recente, do Irã em relação à eleição deles). Mas nada impede que aconteçam...

Outra coisa, eu atuo numa área totalmente desregulamentada! As ciências sociais não tem conselho, não tem nada, o sindicato até existe, mas não tem qualquer força, até porque o patrão principal é o próprio Estado por meio das universidades. Quem atua no mercado como cientista social atua como consultor. Logo, para mim, basta o diploma, porque duvido muito que alguém tenha a pachorra de se debruçar sobre o que leio, se bem, que de vez em quando aparece um honoris causa, notório saber, como em qualquer área... Ah! Eu não tenho interesse em concorrer por vaga em qualquer veículo tradicional de mídia. Evidente que se for convidado as coisas mudam de figura, mas bater na porta no, no, no!

Evidente também que as empresas hoje tem muito mais força que no passado quando estavam adestradas pelo Estado ditatorial no Brasil e também muito mais força do que os que trabalham para elas. Afinal, me parece que a categoria não pretende fazer greve, primeiro pelo resultado duvidoso e, segundo, porque todos tem que se sustentar. O que não falta é gente querendo ser castrada por editores para ganhar um salário bem acima da média nacional...

Os jornalistas acham um absurdo porque "a informação hoje é estratégica" (e eles seriam uma espécie de garantidores?). Ora, quem não lida com informação hoje? Isso não é exclusividade do jornalismo. O que o jornalista produz é notícia, matéria, recorte da realidade!

Falam também do impeachment do Collor, que seria impossível sem a atuação dos jornalistas...tudo bem, mas quem define a linha editorial são as empresas, logo, não foram os jornalistas simplesmente que derrubaram o Collor (ou fizeram-no renunciar...), mas a orientação dada pelas empresas jornalísticas e suas editorias!

Por fim, a formação acadêmica, talvez, seja o ponto principal da questão que estamos debatendo e aí quando fala-se em uma reforma universitária mexe-se em outro vespeiro de corporativismo docente...

A idéia de não precisar do diploma de jornalista não coloca apenas "profissionais não especializados que vivem de bico" como muitos jornalistas colocam. Vejo isso como uma simplificação grosseira ou uma perspectiva claramente pessimista enquanto uma possível tendência.

Queria saber quais são os principais teóricos da comunicação, pois, posso até mudar de opinião sem problemas, mas vejo que a comunicação, como a administração, se apropria de conhecimentos de outras áreas acadêmicas que produzem teoria, como as ciências sociais, a psicologia e a economia. Isso não é qualquer demérito e reflete apenas o sistema universitário brasileiro. Aliás, lá fora, parece que sequer existe graduação em administração e em jornalismo?

O que seria adequado, a meu ver, é que a área de humanas tivesse uma formação básica conjunta e que depois se especializasse, mas aqui é tudo fragmentado...

Quanto à Escola de Frankfurt me poupem os que usam essa base teórica! Fico espantado como ainda tem gente boa usando Adorno e Horkheimer como referência depois de já ter sido provado que não tem qualquer pé na realidade atual. Fora o Walter Benjamin, tudo que foi escrito pelo Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt virou museu, o que, aliás, me parece ser uma das fraquezas dos formados em comunicação no Brasil que trazem ainda uma forte influência destes teóricos...

No mais, essas reflexões foram tiradas de vários e-mails que tenho trocado ultimamente, são fragmentadas, incoerentes e abertas a críticas.

E mudo de opinião quando quero e quando menos esperam... fiquem a vontade para usar os comentários!

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