sexta-feira, 20 de março de 2009

Ação coletiva: momento de refluxo

Recentemente, a passagem dos ônibus da única empresa que oferece os serviços de transporte coletivos há 60 anos em Nova Friburgo, aumentou 25% (de R$ 2 para R$ 2,50). O esboço de uma reunião que participei na última segunda confirma o momento de reflexo pelo qual passa a ação coletiva no Brasil e no mundo, por que não?

Me fez pensar muito nos ciclos de comportamento propostos por Hirschman, que consistem em longos períodos de refluxo coletivo e foco nas atividades da vida privada com períodos estanques em que as pessoas se voltam para as ações coletivas. A última deste tipo pode ser localizada entre o final da década de 1960 e meados da década de 1980, sendo antecidida dos 30 anos gloriosos de capitalismo bem-sucedido com base no Welfare State.

Da reunião, decidiram mobilizar, apenas sindicatos e partidos, mais um movimento de moradia e duas associações de um mesmo instituição de ensino superior, salvo eu e mais alguém que esteja esquecendo (ah! Tinha um vereador também). Não tenho nada contra estas instituições, apenas acredito que o resultado da reunião, um panfleto, como instrumento de mobilização soou ao menos anacrônico, por suas "palavras de ordem": "contra os altos lucros" da tal empresa, malefícios derivados da "atual crise do capitalismo", "roubo", contra a "exploração", entre outros...

Enfim, uma discussão estrutural interessante para eles, mas que acredito que em nada vai impactar a população que, de fato, deve estar mais preocupada em como incorporar uma despesa a mais com os R$ 0,50 que terá que desembolsar a cada vez que pegar uma condução. Não que eu desconsidere esta discussão mais geral, apenas acredito que como instrumento de mobilização não vai surtir efeito. Não tenho vocação para profeta, mas procurarei escrever sobre as consequências da manifestação marcada para o próximo dia 24, bem como se o valor da passagem será diminuído ou não.

Como mobilizar em um momento de reflexo?

Minha sugestão seria de apelar para o que importa às pessoas de uma forma geral neste caso, o impacto no orçamento familiar e uma possibilidade que a Lei Orgânica do município prevê, de consulta à população (audiências públicas? Outro instrumento? Não me ficou claro o mecanismo), que não foi aplicada, nem por este, nem pelo governo anterior que acompanhei.

Como poderia ter sido feita esta apelação para mobilização? Usando referências ao papel de consumidor e cidadão, de democratização das questões que tocam à população e da violação da lei configurando aumento ilegal.

O caminho preferido foi outro, talvez menos por não considerarem a sugestão acima, mas sobretudo por não saberem lidar fora dos limites em que sempre atuaram.

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